Principal complexo industrial do sul da Bahia, o Polo de Informática de Ilhéus está mergulhado na pior crise desde sua criação, em 1995. As indústrias de montagem de computadores e componentes eletroeletrônicos fecharam 2008 com uma queda no faturamento estimada em R$ 600 milhões, em relação ao ano anterior. Um valor que representa uma redução de 30% no lucro destas empresas.
A crise foi a deixa para que cinco empresas mudassem de endereço, buscando em Minas Gerais condições mais atraentes de estrutura, financiamento e política fiscal. Duas delas – Megaware e a Cmos-Drak – se deslocaram par a Grande Belo Horizonte. As outras três – Linear, Sense e Waytec – foram para Santa Rita do Sapucaí. Com uma população estimada em 35 mil habitantes, este pequeno município mineiro é considerado vanguarda na indústria eletrônica e possui um PIB per capita duas vezes maior que o de Ilhéus.
A recessão na economia global também teve forte impacto no desempenho da maioria das 52 empresas do complexo, principalmente nas de pequeno e médio portes. O efeito imediato da recessão veio na forma de demissões e fechamento de unidades industriais. Segundo estimativas do Sindicato dos Trabalhadores nas Indústrias Metalúrgicas de Ilhéus e Região, cerca de 700 trabalhadores foram dispensados desde a eclosão da crise, em setembro do ano passado.
Neste período, pelo menos seis empresas do complexo industrial descerraram as portas, entre elas a Syntax, Netgate, Notcel e Ecimex. Este número representa cerca de um terço das empresas que fecharam desde a criação do Polo de Informática. O impacto nos cofres da prefeitura também foi significativo. De acordo com o secretário de Desenvolvimento Econômico de Ilhéus, Alfredo Landim, o complexo industrial já chegou a ser responsável por 50% da arrecadação de Imposto sobre Serviços (ISS) da prefeitura. Atualmente, o complexo é responsável por uma fatia de somente 25% do imposto recolhido.
O secretário de Indústria e Comércio, Rafael Amoedo, reconhece que a crise tem afetado economicamente a região e promete discutir soluções com os empresários, numa audiência marcada para a próxima quinta-feira. “Com a queda na arrecadação causada pela crise, houve uma redução na expectativa de investimentos do Estado. Estamos fazendo o que está ao nossa alcance”, pontua o secretário, que promete a aplicação de R$ 2 milhões em reparos na infraestrutura do parque industrial.
As deficiências de infraestrutura, segundo o Sindicato das Indústrias de Eletroeletrônicos de Ilhéus (Sinec), dificultam o adensamento da cadeia produtiva e a atração de novos investimentos. “Sem infraestrutura, não se consegue trazer indústrias de suporte, como fabricantes de placas, plástico, papelão e de desenvolvimento de software”, avalia o empresário Gentil Pires, presidente do sindicato.
Falta crédito – Um dos principais efeitos da crise, no Polo de Informática, tem sido a descapitalização das empresas. Sem acesso a crédito para investimentos, os empresários recorreram ao governo do Estado em busca de uma solução. A Desenbahia, agência de fomento vinculada à Secretaria da Fazenda, abriu uma linha de crédito específica para o parque industrial em dezembro do ano passado. Ao todo, foram seis operações propostas, num valor global de R$ 4,5 milhões.
Para o Polo de Informática, especificamente, a Desenbahia criou uma linha para capital de giro de caráter emergencial – a CrediFácil Giro Especial. A linha prevê prazo de 24 meses, oito meses de carência e juros de 1,8% ao mês. Um montante de R$ 30 milhões foi colocado à disposição das empresas com mais de três anos de atividade.
De acordo com o presidente do Sindicato das Indústrias de Eletroeletrônicos de Ilhéus, a maior parte dos empresários não aderiu ao plano emergencial do governo do Estado, em razão do valor limitado do crédito e juros considerados altos. “O que eles nos ofereceram é o mesmo que se consegue em alguns bancos privados. As condições não compensavam”, argumenta Pires.
O empresariado pede mais apoio do poder público para concessão de crédito para capital de giro: “A dinâmica da nossa carga é grande. As empresas pagam à vista e precisam receber os equipamentos com rapidez”, diz Gentil Pites . E exemplifica, citando um produto em franca expansão: “A demanda por laptop (computador portátil) aumentou muito, mas as empresas não dispõem de capital de giro para fabricar e nem comprar no exterior. Para cada R$ 1 milhão faturado com o laptop, são necessários R$ 5 milhões de capital de giro para importar componentes”.
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